quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Fazer Mangá no Brasil: Repudiação da Nacionalidade?

Me chamo Fábio Rodrigo Beckert, nasci no dia 05 de novembro de 1985, às dez horas, no município de Rio Negro, interior do Paraná, onde fui criado. Minha família descende de alemães, italianos, portugueses (muito comum na nossa região), negros e índios, o que me faz, apesar do sobrenome alemão, ter a pele cor de cuia e cabelos e olhos negros. Sou artista, blogueiro, boêmio, meio hippie e tenho o sonho de ainda conhecer cada canto do Brasil e absorver um pouquinho da cultura de cada lugar. Nas minhas horas vagas, leio, desenho e produzo MANGÁ.

Parece meio atritante e sem sentido. Quando se fala em mangakás brasileiros, otakus e otomes, logo se imagina aquela pessoa, em geral adolescente, que absorve a cultura japonesa de todos os lados: músicas, filmes, animações, livros, quadrinhos, moda, que vive num modo de vida quase japonês, sonha em um dia morar lá e se lamenta por não ter nascido em terras nipônicas. Embora em algumas vezes isso seja uma realidade, não podemos transformá-la numa regra. Sou muito nacionalista e defensor da produção artístico-cultural brasileira, sou fã de Chico Buarque e Tom Jobim e considero a literatura brasileira simplesmente fantástica.
Mas então porque diabos faço tanta apologia a cultura japonesa produzindo mangá? Porque tenho um blog para otakus e não um blog falando sobre cultura e arte brasileiras? Para compreender isso melhor, o primeira passo é voltar a minha infância.


MOMENTO BREVE AUTO-BIOGRAFIA

Sempre gostei de desenhar. Quando pequeno, lá pelos quatro, cinco anos de idade, eu gastava cadernos e cadernos com desenhos. Em torno de uns dois daqueles brochura pequeno, 60 folhas, por semana. Detalhe: o que eu mais gostava era de reproduzir as histórias dos filmes e desenhos que eu assistia. Cada página do caderno era, digamos, um "quadro" da história. Quando minha mãe começou a reclamar que eu gastava muitos cadernos desenhando "um cocozinho de mosca" por folha eu comecei a dividir a página em dois quadros, depois em quatro, depois em seis. Pronto, eu havia inventado a HISTÓRIA EM QUADRINHOS!!! Hahahaha!!! Pena que ela já havia sido inventada antes por outra pessoa e muito bem utilizada por grandes figuras como Maurício de Souza, por exemplo.
Cresci lendo as histórias da Turma da Mônica e gostava muito. Nunca gostei dos quadrinhos da Disney. Não me identificava com as histórias do Mickey, do Donald, parece que eram muito distantes da minha realidade, ao contrário das histórias do Maurício. Até cheguei a mandar cartinha pra editora, mas nunca publicaram meus desenhos e nem minhas histórias, snif, snif...
Quando cresci, lá pelos dez, onze, doze anos de idade, os temas dos meus desenhos começaram a mudar um pouco, lógico, mas sempre seguindo a linguagem dos quadrinhos. Eu criava histórias de heróis, de conspirações mundiais, e até mesmo de pessoas normais fazendo coisas cotidianas, como historinhas de amor e esse tipo de coisa. Apesar de gostar de criar histórias de heróis, nunca gostei das HQ's americanas. Achava a abordagem em torno do íntimo dos personagens muito superficiais. Eu não conseguia me sentir como aquela personagem e, por consequência, não entendia como ela se sentia. Faltava sentimento, faltava emoção, faltava verdade.
Então descobri um anime chamado Yu Yu Hakusho! Eu nem sabia que era japonês e que era proveniente de uma história em quadrinhos, mas me encantei com a maneira com que era valorizado os sentimentos e as emoções das personagens na trama.
Me apaixonei! Comecei a desenhar os personagens nos cadernos de escola, comecei a criar histórias com os personagens nos meus quadrinhos e comprar revistas sobre o anime. Só então comecei a compreender mais sobre o assunto, entender as diferenças entre o desenho oriental e ocidental e assistir mais animes diferentes.
Yusuke e Keiko, de Yu Yu Hakusho
Imaginem minha loucura quando descobri que esses animes vinham de uma história em quadrinhos, o tal Mangá! Parece que para mim o ciclo havia se fechado! Defini meu estilo! Só desenhava mangá! Criei diversas histórias, algumas se passando no Japão, algumas no Brasil, algumas em terras de fantasia.
Meio que paralelo a isso, eu descobria no vídeo game os fantásticos RPG's Japoneses, por caminhos diferentes, mas que no fim resultaria em uma só influência, que também me chamavam a atenção por serem games que focavam muito no íntimo dos personagens.
O íntimo psicológico dos personagens sempre me interessou. Talvez por isso, já no Ensino Médio, me interessei e pelos estudos e pesquisas do trabalho do ator, aí acabei me dedicando e envolvendo mais com o teatro do que com o desenho e seguindo definitivamente essa carreira quando entrei para uma companhia de teatro profissional, mas isso é assunto para uma outra "auto-biografia" fora desse blog...


FAZER MANGÁ NO BRASIL É FAZER APOLOGIA A CULTURA ESTRANGEIRA E ABRIR MÃO DA NOSSA IDENTIDADE?

Homem Aranha Indiano:
Mistura de culturas
Certamente o "estilo mangá", com olhos grandes, nariz empinadinho, rostos esguios e cabelos espetados são inconfundivelmente de identidade japonesa. Impossível produzir nesse estilo sem fazer apologia a cultura oriental, mas não precisamos perder a identidade brasileira com isso. Uma coisa independe da outra.
Após meu envolvimento com o teatro e outros artistas, eu já tive uma fase muito xenofóbica, só ouvindo músicas puras brasileiras, lendo coisas exclusivas da nossa literatura e repudiando tudo que vinha de fora, inclusive o único estilo no qual havia desenvolvido habilidades pictóricas, o mangá.
Hoje vejo isso como uma coisa negativa. Acho que devemos ver o mundo como um todo e não dividi-lo em nações, independente de onde você seja, como é a sua cultura ou a política do seu país. Lembrando que essa "divisão" é maior responsável pelas guerras (meio que sigo a filosofia de John Lennon: Imagine que não há países... Imagine todas as pessoas dividindo todo o mundo). Por isso não vejo problemas em fazer apologia a outra cultura. Se, para o bem da minha trama, a história tiver que se passar em outro país, como Argentina, por exemplo, se passará sem problema algum e sem perder a identidade por isso.
Mangá, hoje, já caracteriza-se como um estilo de traço e de condução do enredo, que originou-se no japão, mas ganhou o mundo, assim como o macarrão, que veio da China, mas todo o mundo têm a liberdade de criar suas próprias receitas utilizando a massa.
Mangá do Mickey Mouse
Quem faz mangá no Brasil não está necessariamente abrindo mão da nossa identidade por produzir uma história em quadrinhos em estilo japonês. Minhas histórias, por exemplo, são criadas no Brasil para brasileiros, por isso se passa no nosso país, por isso tem personagens nacionais, por isso escrevo em português, por isso sigo o sentido ocidental de leitura.
Acho que a arte tem que ser, acima de tudo, sincera. Se esse é o estilo do seu traço e da sua história, isso não te faz menos brasileiro, assim como não te faz ser menos brasileiro gostar de Rock'n'Roll, estilo musical surgido nos EUA. Mas uma coisa fica difícil de concordar, quando as pessoas abrem mão da cultura onde vivem e lamentam não terem vindo de outro lugar. Tem que haver sim uma valorização da tua cultura, dos teus costumes, mas sem achar que a cultura de um lugar é superior a de outros. Diferente sim, superior não.



Sou descendente de alemães, italianos, portugueses, negros e índios. Essa mistura me faz ser BRASILEIRO. O Brasil é isso: uma amostra do mundo todo reunida num só lugar, em um lugar que acolhe, que abriga, independente se você é preto, branco, amarelo ou cor de cuia. Um lugar que lê quadrinhos do Mickey, come macarrão, toma Chopp no fim de semana e ouve Rock'n'Roll.

Sendo assim pergunto: desenhar mangá no brasil me faz menos brasileiro?



2 comentários:

  1. Eu acredito que não, eu desenho mangá e ouço musicas coreanos todo dia e nem por isso deixo de ser menos brasileira.

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    Em resposta a sua pergunta em meu blog.
    http://material-extra.blogspot.com.br/p/duvidashtml.html
    Já conseguiste arrumar o problema? Aqui para mim aparece normal, tira um print e me envia ok?
    dai posso ver direitinho ;) abraços .

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  2. Legal Karoline! É isso mesmo, somos brasileiros independente do gosto!

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    Pra onde eu mando o print?

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